quarta-feira, 15 de abril de 2009

Para pensar

Sempre menciono o grupo heterogêneo de pessoas com as quais convivemos aqui.
É interessante ver e comprovar como a língua, as origens, as crenças fazem diferença na forma com que encaramos o desenrolar da vida e o que fazemos com nossas experiências.

Com meus dois filhos aprendi que, apesar da personalidade ser algo que podemos desenvolver e aprimorar, existem traços que já vem impressos e nos fazem únicos, isto já no momento do nascimento.
Eles tem a mesma educação, mesmos pais e são completamente distintos. Com eles passei a respeitar muito mais a individualidade dos outros.
Por vezes tentamos impor nossa opinião as pessoas; mas por mais absurdo que possa nos parecer, existe entre o branco e o preto, uma infinidade de tons e matizes que devem ser ouvidos e respeitados. Vale sempre a máxima: Não existem verdades absolutas.

Este grupo heterogêneo de mulheres, com idades e experiências completamente distintas, criou um book club; onde inicialmente, cada individuo deveria sugerir um livro que permitisse as demais vislumbrar as origens e cultura da sua colega, tentando ler na língua originaria do autor. Infelizmente isto não se mostrou possível.

A primeira coisa 'boa"é que, como temos que acatar as sugestões, acabamos lendo coisas que jamais leríamos se fosse de nossa própria escolha.
A segunda coisa boa é que, após a leitura tem-se uma reunião com a discussão do tema, que geralmente descanba para as experiência e opiniões pessoais. Isto é algo incomensurável... Vocês não podem imaginar o que sai dai.

E para mim, fica cada vez mais claro, que todos nós, em algum canto recondito temos um jardim secreto. Lá, bem no nosso interior, coisas que nunca revelaríamos para ninguem, por simplesmente não admiti-las.

Pensando nisto, recebi de uma amiga uma cronica da Martha Medeiros que acredito se inserir no contexto. Parem e pensem... talvez eu tenha razão...

O GRITO

Não sei o que está acontecendo comigo, diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe!
Não sei se gosto mesmo da minha namorada, diz um amigo para outro.
Ele sabe!
Não sei se quero continuar com a vida que tenho, pensamos em silêncio.
Sabemos, sim!
Sabemos tudo o que sentimos porque algo dentro de nós grita. Tentamos abafar este grito com conversas tolas, elucubrações, esoterismo, leituras dinâmicas, namoros virtuais, mas não importa o método que iremos utilizar para procurar uma verdade que se encaixe nos nossos planos: será infrutífero. A verdade já está dentro, a verdade se impõe, fala mais alto que nós, ela grita.
Sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar este amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.
A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas a verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz. E o grito lá dentro: mas você não queria ser feliz, queria viver!
Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto.
Sabe.
Eu não sei por que sou assim.
Sabe.

Um comentário:

Beth Kasper disse...

Coberta da razão e cada vez mais sábia!
E martha, sempre bom ler.